Nas segundas-feiras é dia de acompanhar a Ir. Esperança, agora substituída por causa da sua viagem a Espanha, pela Enfermeira Amelina, à prisão. Enquanto os doentes fazem consulta, acompanho os outros presos para verem um filme, ou toco guitarra para cantarmos. Desta experiência escrevi um artigo para o manual de jovens, Novos Horizontes. Os nomes que vão encontrar são fictícios, mas as histórias bem reais.
Deixo-vos dar uma espreitada para trás das grades da prisão de Vilankulo.
"A maioria jovens, outros menos jovens, homens e mulheres entram e saem diariamente da cadeia. São histórias de vida que se cruzam, por um momento que tem em comum: infringiram a lei. São muitas as histórias que encontramos atrás das grades.
Joana, de 25 anos, matou o seu próprio pai quando o acusaram de fazer feitiço. Deixou em casa duas crianças ainda de colo. O seu ar triste e vazio revela a quem olha o conflito interior que vive. Mais pesado que a pena que terá de cumprir, é o seu julgamento interior. Baixa a cabeça ao saber que as crianças estão bem de saúde e ao cuidado da sua irmã mais velha. Volta a sorrir enquanto pila o amendoim para preparar a sua refeição e conversa com os outros presos, esquecendo por momentos aquele dia que mudou para sempre a sua vida. António, 18 anos roubou no mercado, passará pela prisão uns meses. Pelo seu bom comportamento irá ajudar na machamba, regando todos os dias.
São muitos os que aguardam julgamento na Cela 1 e aqueles que esperam sentados na Cela 2 por terminar o tempo da pena, na prisão de Vilankulo. O único consolo que tem dentro daqueles pequenos quartos é poder saber que a família os assiste, levando comida, roupa, jornais. Outros agarram-se à religião, gostam de rezar e ler a Bíblia. Há os que preferem ouvir rádio enquanto jogam às damas. Ou ainda os que se inspiram a escrever canções, ou a pintar. Uns mais inocentes que outros, esperam daqueles que os visitam consolo e alguém que escute as suas necessidades, tristezas e dificuldades.
Do lado de fora das grades espera-lhes uma sociedade. Enquanto estão atrás das grades sonham com uma sociedade que os acolha, que lhes dê mais uma oportunidade, um trabalho…Este é o tempo para a reflexão, para a solidão ou até para a conversão…mas sobretudo para sentir o perdão de Deus."
In: "Novos Horizontes"