sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A inspiração

Não sabemos muito bem de onde vem. Uns acreditam que é uma ideia ou pensamento que ocorre de repente, outros acreditam que é a vontade divina na consciência humana...

A verdade é que há dias que acordamos inspirados para criar! Hoje foi um desses dias para mim.

Depois de terminados os cartazes para as escolinhas com as monitoras, comecei a costurar as sobras de pano. Umas vão ajudar para a decoração nas salas das escolinhas, outras talvez me aventure em novos acessórios, como os brincos que a mamã Cândida - a professora de costura do Centro Kuwonekela (luz) das Irmãs Dominicanas -, me ensinou a fazer.

O Mateus e a mamã Amélia são os meus melhores colaboradores: aperfeiçoam as minhas ideias e estão sempre dispostos a ajudar-me. Como é bom haver sempre alguém que está disposto a inspirar-se também!

Eu cá não acredito que uma ideia ou um pensamento só me fizessem criar tais coisas!


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vuyazi, a princesa insubmissa

A lua está novamente cheia. Para além da óptima iluminação, que faz dela o melhor candeeiro das ruas de Vilankulo, contamos com a presença da Vuyazi, a mulher que foi estampada na lua e que tem consigo a trouxa à cabeça e o filho às costas.

Apresento-vos a história desta mulher que todos os meses aparece no céu de Moçambique: 

"Era uma vez uma princesa. Nasceu da nobreza mas tinha o coração de pobreza. Às mulheres sempre se impôs a obrigação de obedecer aos homens. É a natureza. Esta princesa desobedecia ao pai e ao marido e só fazia o que queria. Quando o marido repreendia ela respondia. Quando lhe espancava, retribuía. Quando cozinhava galinha, comia moelas e comia coxas, servia ao marido o que lhe apetecia. Quando a primeira filha fez um ano, o marido disse: vamos desmamar a menina, e fazer outro filho. Ela disse que não. Queria que a filha mamasse dois anos como os rapazes para que crescesse forte como ela. Recusava-se a servi-lo de joelhos e a aparar-lhe os pentelhos. O marido cansado da insubmissão, apelou à justiça do rei, pai dela. O rei, magoado, ordenou ao dragão para lhe dar um castigo. Num dia de trovão, o dragão levou-a para o céu e a estampou na lua, para dar um exemplo de castigo ao mundo inteiro. Quando a lua cresce e incha, há uma mulher que se vê no meio da lua, de trouxa à cabeça e bebé nas costas. É Vuyazi, a princesa insubmissa estampada na lua. É a Vuyazi, estátua de sal, petrificada no alto dos céus, num inferno de gelo. É por isso que as mulheres do mundo inteiro, uma vez por mês apodrecem o corpo em chagas e ficam impuras, choram lágrimas de sangue, castigadas pela insubmissão de Vuyazi."  

In Niketche, de Paulina Chiziane
 
                                                                         

domingo, 19 de setembro de 2010

Bloco a Bloco

Ontem visitei a casa da Bia.

Bia é uma jovem que frequenta a biblioteca da missão e estuda na 10ª classe, na Escola Secundária de Vilankulo. Vive com a mãe e as suas duas irmãs mais novas, numa bonita casa de caniço de uma só divisão que é sala de estar, de jantar e quarto. Ao lado estão a construir. Será uma bonita e espaçosa casa de alvenaria.

É comum em Vilankulo encontrar casas em construção, em blocos de cimento e podem estar dessa mesma forma durante meses ou até anos. Aqui o tempo é diferente para tudo, até para construir! À medida que as famílias juntam dinheiro vão acrescentando os blocos, ou a electricidade, ou a pintura...é um trabalho que pode demorar toda uma vida!

A casa é para muitos o produto final de toda uma vida de trabalho.

Pouco a pouco, a casa da Bia há-de ficar pronta.




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Cozinha moçambicana

Da cozinha de Maputo, onde encontrámos um restaurante português e matei muitas saudades, directamente para a cozinha de Vilankulo a cargo da mamã Amélia! 
Se há pessoas que cozinham tão bem, que nem conseguimos verbalizar como é boa a comida, por cozinharem com amor, a Amélia é sem dúvida uma delas!Para além de cozinheira é já uma amiga de todos cá em casa, tanto pelos anos que já tem nesta casa como pela sua forma de cuidar dos outros.
Hoje recebemos visitas, eram cerca de 20 missionários que trabalham na província de Inhambane. Enquanto eles discutiam as estratégias de trabalho para o futuro, eu, a mamã Amélia, a mamã Teresa e o Mateuani preparávamos tudo para o almoço…como nos divertimos! Entre cantorias, risadas e adivinhas chegámos às 12h30 com: Arroz e feijão, frango assado, mandioca frita, salada e sumo de laranja (isto depois de 1 hora a espremer laranjas, claro!).
Aproveitei esta inspiração para experimentar uma receita de baba de camelo.
Nzu bhika. Estou a cozinhar.

Lá fora oiço o Fábio e o Nelton a resolver problemas matemáticos… Eu continuo sem conseguir resolver o meu: subtrair os quilos a mais! 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fany Mpfumo

Hoje quero partilhar convosco uma música especial para mim. Para além de gostar muito, aprendi a tocar na guitarra e costumo ouvir os alunos nas aulas de guitarra a tocarem também lá em Vilankulo - por ter uns acordes fáceis -, no alpendre de minha casa!

Não posso deixar de vos falar daquele que a cantou pela primeira vez! 
António Mariva Mpfumo, nascido em Moçambique em 1928, ficou conhecido por Fany Mpfumo, o rei da Marrabenta. A marrabenta é um tipo de música, assim como uma dança típica de Moçambique que foi desenvolvida na capital, Maputo. Do português "rebentar" e do termo local "arrebentar" são muitos os artistas que hoje em dia lançam álbuns deste estilo musical.

Apresento-vos "A vasaty wa namuhlo", em português "Mulheres da minha terra". Fany recorda-se especialmente da Cecília "Nzi Khumbuka Cicilia".

Para as mulheres da minha terra, deixo as mulheres da terra de Fany Mpfumo.




sábado, 11 de setembro de 2010

Pelas ruas de Maputo

Estava hoje no carro, nas ruas de Maputo, quando passei por uma loja que me despertou a atenção. Tinha o nome pintado na parede: "Kaya Ka Hina". 
Rapidamente tirei da mala a máquina de guerra, como carinhosamente chamo à minha compacta digital de marca branca (como vão constatar pela qualidade das fotografias!), e registei!

Os pronomes na construção gramatical do Xitshwa são um mundo, ainda assim de uma forma simplificada apresento-vos os  pessoais absolutos: Mina (eu), Wena (tu), Yena (ele), Hina (nós), Vona (eles).

Assim, fiquei a saber que existe "A Nossa Casa" no Maputo!



Quando a Matacanha bate à porta

A pulga matacanha, é dos parasitas mais irritantes que eu já conheci! A fofinha, já que só a fêmea grávida é que ataca, não tem mais que um milímetro de comprimento e penetra na pele, sobretudo entre os dedos dos pés. Lá começa a deixar os seus ovos e pode ser perigoso para quem não tira, ou não tem cuidados de higiene, pode ganhar infecções tais como as que causam tétano.

Nesta altura da floração da mangueira, é inevitável não dar boleia a umas. O tio Raimundo já me tirou umas quantas com um pico da espinhosa e eu também já estou especialista em tirá-las! 

A única coisa que anima é pensar que dentro de um ou dois meses podemos esquecer as matacanhas e deliciarmo-nos com as doces mangas!!!

Agora tenho de ir buscar uma agulha que trouxe uma de Vilankulo...


Mangueira em flor, ao lado da casa onde vivo. Foto por Maurizio

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Em casa no Maputo

Estava em Vilankulo, caminhava pela rua e vi uma publicidade da "Kawena", uma loja de material de construção da África do Sul. Perguntei o que significava aquela palavra em Xitshwa e alguém disse: "kaya Ka wena, a tua casa"!

Inspirou-me aquela palavra que descobri.

Não estou na minha casa, porque já não tenho casa. Fico onde me hospedam, aqui em Moçambique. Estou no maputo e aproveitando a óptima ligação de Internet começo hoje a minha partilha!


Casa Regional do Maputo - Missionários da Consolata