sábado, 30 de outubro de 2010

Por trás da minha janela

Durante o dia aquece e traz uma claridade de cegar, quando desaparece refresca e aparecem os mosquitos. Mas a minha parte favorita é quando se está a despedir de mais um dia.

Especialmente para a minha querida amiga Catarina, hoje, deixo o pôr do sol mais lindo que já vi! 

Todos os dias perto das 18h, no sitio do costume: por trás da minha janela!


Av. Eduardo Mondlane
Ilha de Bazaruto

Moçambicanismos

Numa altura em que Portugal se adapta ao novo acordo ortográfico, eu cá já me inculturei nos moçambicanismos! No inicio, as palavras que eram portuguesas, soavam estranhas. As articulações eram diferentes e os significados também, para mim.

Depois de aprender o português de Moçambique, deixo-vos uma lista de algumas das minhas palavras e expressões favoritas*.

Cacimba - neblina, nevoerio
Camisete - camisola
Chamboco - chicote feito de borracha ou plástico para conduzir animais ou punir
Dar ba - forma intima para dar um beijo, utilizado para as crianças
Desconseguir - não conseguir
Estar incomodado - estar doente
Hoyo-hoyo - das as boas vindas
Tirar lágrimas - chorar
Machimbombo - autocarro
Madala - homem idoso
Madota - pessoa com responsabilidade de tomar decisão
Mafiar - enganar, mentir: "Estás a mafiar-me"
Mahala - grátis
Maningue nice - estar muito bem
Matabichar - tomar o pequeno-almoço
Mulungo - branco, patrão
Nem tão pouco - nem um bocadinho
Sonecar - dormitar
Suruma - droga
Tontonto - aguardente. Palavra onomatopaica (som da gota a cair do alambique, ton-ton-ton)

 * Retiradas do livro "Moçambicanismos - Para um léxico de usos do Português Moçambicano"


Carima a preparar o amendoim para semear, Mujavangue
Festa do núcleo S. Francisco de Assis

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia 12 de Outubro, feriado dos professores

Há um ano atrás, a Banda Six cantava na festa do dia dos professores na Escola Secundária de Vilankulo e na Escola Secundária de Mucoque. Formada por jovens que frequentam a missão nas diferentes actividades, Biblioteca, Centro de Informática e grupos de jovens da paróquia aprenderam a tocar guitarra com o Pe. Fábio. Ficaram conhecidos com a canção que escreveram e compuseram “Amar é acreditar” e assim foram convidados a animar várias festas dadas pelo município, pelas escolas e até cantaram na Rádio Maria de Vilankulo. 
Agora reduzidos a banda three, Helton, Nelton e Pacheco falam com nostalgia daqueles tempos. Ainda com os amigos que agora estão na universidade ou no seminário, cantaram “12 de Outubro”: 
"Dia 12 de Outubro é o dia dos professores. Dia 12 de Outubro é o dia dos professores, apostamos na educação, é de nós que saem os doutores os ministros e presidentes. 
Viva, viva o 12 de Outubro, é o dia da ONP (Organização Nacional dos Professores), que esta data seja repetida por anos e anos na perfeita união"

Em Moçambique não se festejam feriados religiosos. Devido à presença de várias igrejas e seitas o Estado só agendou dias ligados à nação. Não pensem por isso que os Moçambicanos não têm feriados, deixo-vos alguns dos mais emblemáticos que vivi durante este ano. 

3 de Fevereiro – Dia dos Heróis Moçambicanos
7 de Abril – Dia da Mulher Moçambicana
1 de Maio – Dia Internacional do Trabalhador
25 de Junho – Dia da Independência de Moçambique
7 de Setembro – Acordos de Lusaka
25 de Setembro – Dia das Forças Armadas
4 de Outubro – Dia da Paz
12 de Outubro – Dia dos Professores


Praça do Município 
Concentração para cantar o Hino Nacional, na praça

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Chuva

Outubro trouxe com ele a tão desejada chuva! Hoje tivemos um dia cinzento e com chuva durante a manhã.

Se continuar assim teremos boas mangas e a terra ficará boa para cultivar. Nos próximos três meses todos estarão a ir frequentemente à sua machamba (horta) fora da vila, uns em Faiquete, outros Pambarra ou Mangalisse, sempre a mais de uns 20 quilómetros de distância feitos a pé, de bicicleta ou de chapa (carro de transporte colectivo).

Todos vão tentar a sua sorte com o milho, a mandioca e o amendoim.

Resta-nos esperar que a chuva nos continue a molhar como hoje para que, tal como na natureza, haja renovação! Mas sobretudo...para podermos dizer adeus às pulgas e às mataquenhas!!




Av. Eduardo Mondlane - Vilankulo
Machamba de Mapinhane

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

De Vilankulo a Nova Mambone

Da terra do bom peixe, à terra do camarão e do sal são 200km de distância e uma diferença abismal do modo de vida.

Nova Mambone pertence ao distrito de Govuro, o extremo da província de Inhambane, que faz fronteira com a província de Sofala. A vila está situada na margem direita do Rio Save, que desagua no Índico. 

As marcas da presença do rio dão a perceber que é um rio largo e pouco fundo, o seu trilho acompanha a estrada principal com largas planícies verdes e amareladas, com bananeiras e palmeiras, coqueiros e papaeiras. Para além dos agricultores, encontram-se nestes pastos muitos bois e cabritos, nem todos com pastor a vigiar. Podem imaginar a aventura de viajar nesta estrada!

Ao longo da estrada principal até à vila encontrei a missão, uma escola secundária, um hospital e algumas padarias. Na vila não há mais que um posto de correios abandonado, o posto da policia, a casa do governador, a igreja e a praça dos cereais. Entre a vila e o mar está a salina. Já são cinco, de vários proprietários mas a primeira foi construída há 30 anos pelos missionários da Consolata. É uma construção espantosa, numa grande dimensão e com muitos engenhos apesar da aparente simplicidade. Na salina trabalham um grande número de pessoas. Para além desta actividade há muitos que vivem da agricultura, da pastorícia e da pesca.

Hoje, depois de carregar os sacos de sal com o Mateus, voltei a Vilankulo com a certeza que esta vila é já uma grande e desenvolvida cidade.