sábado, 13 de novembro de 2010

Telemóvel


Depois dos incidentes no Maputo, em Setembro, soube-se que aquela greve contra a subida dos preços que deu origem a mortos foi convocada por celular.

A Mcel e a Vodacom, as duas e únicas empresas de redes móveis em Moçambique depararam-se com um problema, a grande quantidade de cartões vendida nas lojas e nas ruas pelos vendedores ambulantes não permite o registo dos números. Assim todos os números são anónimos e é muito fácil comprar, usar e deitar fora um giro (cartão da rede Mcel) ou um cartão da Voda.

O governo não conseguiu encontrar os responsáveis desta manifestação, e as empresas anunciaram que quem quiser manter o seu número activo terá de registar na loja até dia 15 de Novembro. 

Como boa portuguesa deixei para a data limite, mas terei o meu 82 registado!


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Escolinhas

Depois do encerramento do ano lectivo nas quatro Escolinhas (creches) de Mapinhane: Mujavangue, Mapinhane, Chitetemane e Mulungo, foi a vez das quatro Escolinhas de Vilankulo: Alto Makassa, Mahake, Mucoque, Chiruala 2.

Os pais estiveram presentes, assim como os responsáveis das comunidades para a festa das crianças, com a entrega dos trabalhos, dos diplomas e um lanche.

Um dos meus trabalhos deste ano era acompanhar as monitoras e as escolinhas. Por isso, juntas comemorámos também a caminhada que fizemos ao longo deste ano, com as formações, os dias de trabalho partilhados e tudo aquilo que aprendemos umas com as outras.

A crianças e monitoras resta desejar, Boas Férias!

Monitoras e cozinheiras de Mapinhane

Encerramento na Escolinha de Chitetemane

Encerramento na Escolinha do Alto Makassa

Monitoras Ana e Teresa


Encerramento da Escolinha em Mucoque

Água

Ontem conheci Hambane, a terra do Mateus, um dos trabalhadores da missão de quem já vos falei antes. A 50 quilómetros de Vilankulo: 20km até Pambarra (o cruzamento da estrada nacional) e 30km pelo mato, encontrámos um sitio com terra vermelha, muitas árvores e pedras. Ali chegam muitos camiões para transportar pedra e lenha. As pessoas deslocam-se a pé ou de bicicleta até ao povoamento mais próximo para fazer compras em Pambarra, a 30km de distância. Vivem da pedreira, os homens e as mulheres de partir a pedra, todos tem machamba.

O problema que preocupa a todos em Hambane, é a falta de água. Sem chuva e com as duas bombas manuais do poço avariadas, todos estão a sofrer. Para conseguirem água têm de percorrer mais de 30 quilómetros, e transportá-la à cabeça ou de bicicleta, nunca mais de 20 litros. Com todas as dificuldades, ofereceram-nos da pouca água que tinham para lavarmos as mãos e para almoçarmos juntos, para festejar o padroeiro, S. Josafat. Não faltou maheu, uma bebida feita de farinha de milho fermentado, wutchema , uma bebida extraída de várias palmeiras, gazela e ushua, uma espécie de papa de farinha de milho.

Ao chegar a casa cheia de terra vermelha, pude tirá-la com um simples rodar da torneira mas não pude deixar de lembrar Hambane quando o tubo rebentou da parede jorrando água com toda a força. Seria uma alegria se o mesmo voltasse a acontecer naquela terra!


Comunidade de Hambane
Casa dos pais do Mateuani

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Atrás das grades


Nas segundas-feiras é dia de acompanhar a Ir. Esperança, agora substituída por causa da sua viagem a Espanha, pela Enfermeira Amelina, à prisão. Enquanto os doentes fazem consulta, acompanho os outros presos para verem um filme, ou toco guitarra para cantarmos. Desta experiência escrevi um artigo para o manual de jovens, Novos Horizontes. Os nomes que vão encontrar são fictícios, mas as histórias bem reais.

Deixo-vos dar uma espreitada para trás das grades da prisão de Vilankulo. 

"A maioria jovens, outros menos jovens, homens e mulheres entram e saem diariamente da cadeia. São histórias de vida que se cruzam, por um momento que tem em comum: infringiram a lei. São muitas as histórias que encontramos atrás das grades.
Joana, de 25 anos, matou o seu próprio pai quando o acusaram de fazer feitiço. Deixou em casa duas crianças ainda de colo. O seu ar triste e vazio revela a quem olha o conflito interior que vive. Mais pesado que a pena que terá de cumprir, é o seu julgamento interior. Baixa a cabeça ao saber que as crianças estão bem de saúde e ao cuidado da sua irmã mais velha. Volta a sorrir enquanto pila o amendoim para preparar a sua refeição e conversa com os outros presos, esquecendo por momentos aquele dia que mudou para sempre a sua vida. António, 18 anos roubou no mercado, passará pela prisão uns meses. Pelo seu bom comportamento irá ajudar na machamba, regando todos os dias.

São muitos os que aguardam julgamento na Cela 1 e aqueles que esperam sentados na Cela 2 por terminar o tempo da pena, na prisão de Vilankulo. O único consolo que tem dentro daqueles pequenos quartos é poder saber que a família os assiste, levando comida, roupa, jornais. Outros agarram-se à religião,  gostam de rezar e ler a Bíblia. Há os que preferem ouvir rádio enquanto jogam às damas. Ou ainda os que se inspiram a escrever canções, ou a pintar. Uns mais inocentes que outros, esperam daqueles que os visitam consolo e alguém que escute as suas necessidades, tristezas e dificuldades.

Do lado de fora das grades espera-lhes uma sociedade. Enquanto estão atrás das grades sonham com uma sociedade que os acolha, que lhes dê mais uma oportunidade, um trabalho…Este é o tempo para a reflexão, para a solidão ou até para a conversão…mas sobretudo para sentir o perdão de Deus."

In: "Novos Horizontes" 


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O hospital

Em Fevereiro de 2007, há 3 anos atrás, a vila de Vilankulo ficou irreconhecível. Ainda se fala muito no ciclone Fávio que destruiu casas, matou pessoas e deixou sem nada aqueles que já pouco tinham. Como depois da tempestade vem sempre a bonança, também aqui houve muitos financiamentos e apoios do exterior para as reconstruções e apoio às famílias.
O hospital não foi excepção. Contado por aqueles que viram, as chapas voaram, alguns doentes foram atingidos e outros acabaram mesmo por morrer. Todos foram albergados nas tendas da Cruz Vermelha, algumas das quais ainda funcionam hoje como enfermarias para os doentes de baixa com tuberculose, SIDA e outras doenças infecto-contagiosas. 

O novo hospital está quase pronto, as chapas foram postas com protecção anticiclone, são verdes com calhas vermelhas e paredes verde limão. Os muros estão prontos e pintados de branco, assim como os passeios de cimento. Há um posto na entrada principal, uma casa mortuária e um edifício que dará para todos os doentes.

Resta agora que por dentro seja tão agradável o atendimento dos técnicos e o tratamento aos doentes, como as suas estruturas o são por fora!

Vista da Av. Eduardo Mondlane
Novo hospital ao fundo, de chapas verdes